17 de out. de 2014

Os momentos que eu registrei


Fotografias nas mãos.
Algumas nítidas, outras já desbotadas pelo tempo.
Em todas, lembranças.

Olha aqui! Todos rindo, espalhados, bagunçados, distraídos.
Olha essa! Todos em seus devidos lugares, pose forçada
(quem sabe, a melhor que puderam fazer!).

Uma por uma, eu as passo entre os dedos.
Com carinho.
Com cuidado.

Às vezes, sem nem perceber, lágrimas caem, em profunda saudade.
Outras vezes, sem nem perceber, ouço minha risada alta.

E num piscar de olhos,
Me vejo em outro tempo.
Em outro lugar.
Em boa companhia.

Volto à decoração antiga da casa
E ao quintal de terra que não existe mais.
Volto aos lugares que tanto gostei de conhecer,
E aos lugares que foram meu refúgio por um tempo.

Volto no tempo!
Me vejo novamente criança, com uniforme da escola
Ou com um vestidinho branco, rodado, cheio de laços.
Volto a ver meus irmãos adolescentes, com cara de tédio.
Volto a ver minha irmã bebê, chorando de cólica, no colo da minha mãe
(ou será que ela está chorando por que eu a derrubei sem querer?)

Vejo a turma de amigos, todos bem juntos,
Numa época que era tão fácil ser feliz e sonhar.

Vejo a professora que eu admirava e que uma vez me fez sentar no fundo da sala,
Vejo o canto do pátio onde eu sentava, muitas vezes esperando a vida começar.

Vejo minha gatinha Sophia deitada na escada,
A cachorra Pureza pulando no sofá,
O miquinho no ombro do meu irmão.

Vejo a vó na porta de casa, lá em Minas.
Um monte de primos sonolentos, mas bagunçando, em festa de natal.
E vejo pessoas queridas que já se foram
(ai que vontade de abraçar quem está nessa foto!).

Com o coração aquecido,
Quanta coisa revivi!
Olhei nos olhos de quem hoje está distante.
Ouvi a canção Aquarela,
Senti areia sob os pés,
Me acalmei no rio,
Suspirei por causa do primeiro amor.

Fotografias têm mesmo esse efeito.
Permite que eu segure em minhas mãos
Momentos que já estavam registrados na memória,
Guardados no coração.

Ah, como eu amo ver fotografias!
Seja dos momentos únicos, tão especiais, marcantes.
O aniversário, a viagem,
A formatura, o casamento,
O bebê que chegou.

Mas, e as fotos daqueles momentos tão corriqueiros
Mãe fazendo o almoço, pai cuidando da horta?
Quero fotografá-los também,
Pois lá no fundo eu sei,
Que esses serão os momentos que mais sentirei falta.
E só então, perceberei como eram também momentos únicos, especiais e marcantes,
Dignos de muitas fotografias.

E enfim, como um segredo, guardo minhas fotografias,
Com o desejo de encontrar novas paisagens, ângulos e
Momentos que eu possa segurar com todas as minhas forças...


*Texto adaptado de outro texto meu, publicado em Mais Viver Unimed Paulistana

3 de out. de 2014

De onde vem esse gotejar?



Ouço um gotejar. 
Às vezes constante, às vezes discreto.

Será que vem de algum rio, 
seguindo seu caminho,
escorrendo entre as pedras?

Será que vem das copas das árvores,
gotas preguiçosas,
que sobraram da pesada chuva? 

Ou será que são aquelas que vem de dentro?
Se dos olhos, da alma ou do coração, 
já não saberia dizer.

Uma por uma, eu as conto.
Mas já perdi a conta!

E uma por uma, elas me contam.
Ora sobre a dor (de quem magoado foi).
Ora uma tristeza (de quem para trás ficou). 
Ora uma decepção (de quem cegamente confiou).

Ou mesmo, quem sabe, me contam
uma história de amor (daquelas que um dia sonhou).

Mas às vezes, elas são só silêncio.
Apenas ouço o seu gotejar. 

Talvez tenham medo 
de se revelar.
E ainda mais medo de não encontrar 
quem as possa enxugar.